Illusion or Disillusion

"Ambos sabemos e ambos já confessámos um ao outro que o que sentimos pode, ou podia ser o início de um grande amor. E, como acontece com todos os homens, essa possibilidade assusta-te.
Todos procuramos um grande amor, não interessa se temos 16, 36 ou 63 anos, não interessa se nascemos ricos ou pobres, inteligentes ou burros. A necessidade da realização pessoal através do amor é uma das maiores verdades universais. Mas a vida vence quase sempre o amor, por isso são muito poucas as pessoas que se podem alegrar com a consumação plena desse sonho.
Não sou dona do tempo nem de nenhuma verdade, a não ser daquilo que sinto!
Mas o que sinto está cá dentro, só eu vejo, e mesmo que te explique com todas as palavras do mundo, nunca saberei se me expliquei bem e, caso o tenha feito, se entenderás exactamente da forma como te quis dizer, por isso é que às vezes fico calada e espero que o tempo resolva os enigmas mais complexos - ou mais simples - da existência.
Amor é muito mais do que o hábito, é sobretudo tempo.
E quando se ama, há sempre dúvidas e medos, há sempre uma vontade secreta de outros desejos, de outras vidas, de outras viagens, mas vem o tempo e decide por nós aquilo de que não somos capazes.
Quando se ama alguém tem-se sempre tempo para essa pessoa.
E se ela não vem ter connosco, nós esperamos.
O verbo esperar torna-se tão imperativo como o verbo respirar. E aprendemos a respirar na espera, a viver nela, afeiçoando-nos a um sonho como se fosse verdade.
A vida transforma-se numa estação de combóios e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar.
O amor na espera ensina-nos a ver o futuro, a desejá-lo, a organizar tudo para que ele seja possível. E se calhar é por tudo isso que já aprendi a esperar, confiando à vida tudo o que não sei ou não posso escolher.
É mais fácil esperar do que desistir.
É mais fácil desejar do que esquecer.
É mais fácil sonhar do que perder.
E para quem vive a sonhar é muito mais fácil viver!"
(Margarida R. Pinto in "Diário da tua Ausência")