Who Believes in Fairy Tales??!
"Este tempo sofre muitas desgraças, na guerra, ambiente, saúde, etc. Mas a maior de todas é acreditar nos contos de fadas. Essas lendas infantis são muito antigas e sucessivas gerações as narraram, mas todas sempre souberam que se tratava de fantasia. Este é a primeira época que realmente acredita nelas, criando terríveis efeitos sociais.

Os contos de fadas têm muitas personagens fictícias, mas as mais incríveis são... o príncipe e a princesa. São incríveis, porque aquilo que fazem no conto é sempre casar e viver felizes para sempre. Ora toda a gente que está casada sabe que não se consegue viver feliz para sempre. Esse desejo é, aliás, o maior obstáculo à construção da verdadeira felicidade. Os casais bem sucedidos, aqueles que se amam para sempre, não são sempre felizes. Vivem no meio de alegria e comunhão, mas também de ocasionais dúvidas e zangas, bastantes sofrimentos e desilusões. Amam-se sempre, mas muitas vezes com alguma infelicidade. Neste mundo nenhum ser humano consegue ser feliz para sempre, sobretudo a dois.
Dizer isto hoje é a suprema heresia, pois, com fé inabalável na televisão, este tempo acredita piamente nesse aspecto central dos contos de fadas. Os jovens hoje, livres de fazer o que quiserem, sentem direito a felicidade principesca. Passado o fogo inicial, perante o menor problema, obstáculo, desentendimento, concluem que se enganaram. Se não conseguem ser sempre felizes, então este não é o prometido parceiro encantado. Desfazem a união partindo esperançados para outra.


A solução antiga estava longe de ser perfeita, gerando infidelidades, frustrações, recriminações. Mas evitava o descalabro actual. Porque a nossa crença nos contos de fadas criou um caos social de primeira grandeza. E, pateticamente, não reduziu as infidelidades, frustrações e recriminações. Só as tornou banais. Procuramos escondê-lo para podermos manter a fé nos sonhos, mas essa fé trouxe a desarticulação da família, com consequências sociais devastadoras.
A família é a célula-base da sociedade. Antigamente nunca se dizia isto, porque se vivia isto. Os princípios só são enunciados ao deixarem de ser respeitados. Quando a finalidade central deixou de ser a família para ser o conto de fadas, surgiu a desgraça do século. Chamamos "novos tipos de famílias" aos estilhaços resultantes dessa desgraça. O casamento passou a ser uma relação mais fluída que o vínculo laboral. Os casais habituaram-se a desligar a sua vida real do momentâneo sonho idílico. As crianças passaram a viver órfãs com pais vivos ou, pior, com demasiados pais.

